Resumo. Investigamos os processos sociais de reconstrução da identidade de indivíduos com deficiência, quando atuam como mediadores da aquisição da leitura por seus pares na APAECG. Numa pesquisa qualitativa, cujos dados foram produzidos por meio de questionários, entrevistas semi-estruturadas e observação participante das sessões de leitura e dos encontros de formação destes leitores, analisamos as significações destes sujeitos quando assumem a condição de leitores mediadores. Constatamos a contradição entre significações que cristalizam e/ou colaboram com a transformação dos lugares estigmatizados destes indivíduos, nas relações sociais de que fazem parte. A significação de receio da desautorização do lugar de leitor/mediador por outros agentes sociais se vincula à identidade legitimadora que visa alargar e racionalizar a dominação. As significações do papel do mediador/voluntário, do desenvolvimento do letramento, de membro da comunidade discursiva e de vínculos sócioafetivos se relacionam com a identidade de resistência, já que colabora com o rompimento do estatuto de incapacidade, por estes indivíduos, imposto pelas pedagogias classificatórias. O programa de leitura se revelou uma prática pedagógica includente, na medida em que permite aos sujeitos vivenciarem os conflitos entre as identidades, o que impulsiona a reconstrução deles como sujeitos capazes, produtivos e de competência letrada, inclusive, para mediar a aquisição da leitura, desconstruindo a ideologia da normalidade e a reprodução ideológica de que são alvo historicamente.   Palavras-chave: Leitor-Mediador. Identidade. Letramento.